
O dado é brutal: mais de R$ 1 bilhão por mês ainda circula no campo ilegal de apostas no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável. Isso representa 60% do setor. Mas talvez o dado mais incômodo nem seja esse, mas o porquê do mercado regulado ainda não conseguiu ser mais desejável.
Uma das hipóteses é a de que ele ainda não tenha sido capaz de se tornar competitivo o suficiente. Não na sua estrutura jurídica, nem na sua intenção regulatória, mas na execução como produto, serviço e experiência.
A informalidade sempre foi habilidosa nisso. Não precisa convencer ninguém de que é atrativa, porque já nasce próxima, ível, familiar. A fatia do segmento legalizado ainda está buscando seu lugar.
Não é que o mercado regulado deve se flexibilizar a ponto de perder sua integridade. Muito pelo contrário, o setor precisa competir em qualidade, em design e em experiência. Precisa ser melhor em tudo e assim se tornar desejável.
E mais: precisa ser vocal. Temos de parar de falar apenas entre as entidades e empresas envolvidas. Enquanto 60% da receita continua fluindo em silêncio por canais ilícitos, há um risco de normalizar o que deveria ser um problema urgente.
O setor precisa sair da postura reativa e ar a ocupar mais espaço na opinião pública. Tem que incomodar, provocar, propor. O silêncio confortável de quem está fazendo o dever de casa não constrói mercado. Construí-lo exige visão, narrativa, consistência, coragem e (muita) comunicação.
A regulamentação em janeiro foi um marco, mas ela sozinha não transforma o setor. O que irá provocar mudanças consideráveis é a capacidade do setor regulado se posicionar como uma indústria legítima, eficiente e irada. Se o informal ainda lidera, é sinal de que a formalização não está sendo suficiente como proposta de valor. É hora de elevar a régua.
Enquanto olharmos apenas para a ilegalidade como um problema externo, vamos continuar errando na estratégia. O desafio não é coibir o que está errado. É tornar o certo indiscutivelmente melhor e atrativo.
Roger Amarante
Cofundador e CFO da S8 Capital